Brasileiros demoram, em média, 39 meses – ou seja, 3 anos e 3 meses – para procurar ajuda médica para tratamento de depressão. O dado faz parte de um levantamento realizado pelo Instituto Ipsos, a pedido da empresa farmacêutica Janssen, que ouviu 800 pessoas com ou sem relação com a depressão de 11 Estados brasileiros. As informações são da Agência Brasil.
Apesar de os pensamentos suicidas terem incomodado cerca de 4 em cada 10 respondentes antes de buscar o diagnóstico, a demora em procurar ajuda especializada ocorreu, principalmente, pela falta de consciência de se tratar de uma doença (18%), por resistência (13%) e medo do julgamento, da reação dos outros ou vergonha (13%).
Os dados foram apresentados em um workshop realizado em meados de junho, em São Paulo, onde especialistas no assunto falaram sobre a “Urgência da saúde mental: um outro olhar sobre a depressão”.
Problema sério
Segundo a professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC Cintia de Azevedo Marques Périco, a demora na busca por tratamento para a depressão pode trazer sérias consequências ao paciente.
“O agravamento dos sintomas, a diminuição da eficácia dos tratamentos, a perda de anos produtivos, o impacto econômico e a severa diminuição da produtividade, e ainda prejuízo em seu convívio familiar e social são consequências da doença. A depressão precisa ser levada à sério”, afirmou Cíntia que também é integrante da Comissão de Emergências Psiquiátricas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Desconhecimento
Dados da pesquisa demonstram ainda que há falta de entendimento das pessoas sobre a gravidade da doença e sobre seu impacto na vida do paciente e de todos ao seu redor. Apenas 10% acreditam que a depressão é uma doença com base biológica (e repercussões físicas no corpo). Outros 35% acham que a enfermidade não pode ser tratada com medicamento e 36% acreditam que, para superar a doença, é preciso força de vontade.
Outro estudo recente, publicado na revista “The Lancet”, aponta que até 80% das pessoas afetadas pela doença no mundo sequer sabem de seu diagnóstico. Atualmente, a depressão é considerada uma emergência psiquiátrica devido a sua relação com casos de suicídios e tentativas de autoextermínio***. Estudos apontam que cerca de 97% dos suicídios têm ligação com transtornos mentais, especialmente a depressão.
O que é depressão?
A depressão é uma doença que se instala após uma dificuldade do nosso organismo em produzir neurotransmissores como a serotonina, dopamina e noradrenalina, responsáveis por sentirmos prazer, alegria e bem-estar. Esse desequilíbrio faz com que o indivíduo fique sem ânimo para realizar as atividades do dia a dia e até mesmo programas que, em tese, são prazerosos e relaxantes. Enfim, acaba a alegria de viver.
Essas sensações de desânimo acabam estimulando outras reações fisiológicas, ocasionando apatia, desgosto, consternação, baixa autoestima. É preciso estar atento quanto a pequenos sinais para que se possa procurar ajuda especializada e tratamento adequado.
Sintomas
Não se pode confundir a depressão com uma tristeza passageira, aquela reação natural a uma situação difícil, tão comum ao longo da vida de todos nós. Mas o descontentamento que não passa, a desmotivação, a apatia, a perda do prazer em realizar tarefas do cotidiano, em sair com os amigos e o isolamento excessivo podem, sim, ser sintomas da doença.
Essas reações podem vir acompanhadas ou não de uma alteração maior no apetite e no sono (dificuldade para dormir ou dormir muito), perda da vontade de sair da cama e até mesmo de tomar um simples banho. Quando essas questões começam a gerar problemas na qualidade de vida do indivíduo, afetando de alguma forma seu cotidiano familiar e profissional, é hora de procurar ajuda especializada, pois podem levar a situações mais graves como sentimentos de inutilidade e pensamentos suicidas.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é complexo e vai indicar também o tratamento: o psiquiátrico, o terapêutico e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia. Para chegar a uma conclusão, o profissional médico fará uma análise completa do histórico do paciente. Toda a avaliação é clínica e não passa por exames. Serão analisados sintomas e tempo de persistência dos mesmos, histórico familiar, gatilhos, comorbidades, dentre outros.
O Brasil é o quinto país com mais incidência de depressão no mundo, apresentando um número de casos superior ao de diabetes, segundo Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde. De 2011 a 2019, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) calculou um aumento de 167% na utilização de serviços relacionados à saúde mental.
*** Se você estiver passando por dificuldades ou tendo pensamentos suicidas, procure ajuda no CVV, Centro de Valorização da Vida. O centro atende voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Ligue 188.
Depressão
Tristeza excessiva, apatia, isolamento. Identificou sintomas em alguém próximo? Chegou a hora de ajudá-lo. Veja o que você pode fazer:
- Ouça com atenção e acolha, sem julgamentos
- Estimule a busca por ajuda profissional
- Desencoraje o consumo de álcool e drogas
- Sugira a prática de esportes
- Incentive a socialização
- Reforce o fato de que a depressão é uma doença que tem tratamento
- Não ignore comentários suicidas
Fonte: www.medley.com.br
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