Em média, 28 em cada 100 brasileiros com a televisão ligada à noite estão assistindo ao Big Brother Brasil, o reality show da Globo. Nos últimos dias, essa enorme audiência passou a comentar a respeito do comportamento alimentar de uma participante da edição deste ano: a modelo gaúcha Bárbara Heck, de 29 anos, chupa limão ao sentir fome e, apesar de magra, já declarou que teme “não passar pela porta” no dia em que sair do confinamento.
Nas festas da tal casa mais vigiada do Brasil, Bárbara quase só come doces e, depois, como se fosse “para compensar”, é capaz de ficar horas e mais horas em jejum no dia seguinte.
Nas três primeiras semanas do programa, a “sister” caiu na “turma da xepa”, que tem direito a um cardápio, digamos, um tanto restrito. Mas ela o restringiu mais ainda: para não comer arroz com feijão, passou seus dias a ovo e folhas. E chegou a sentir tontura. Então, ao ouvir comentários de “brothers” preocupados, chegou a se irritar.
Claro, não dá para cravar o diagnóstico de um transtorno alimentar só pelo que a participante demonstra no programa de televisão — e nem seria correto fazer isso. Mas é possível aproveitar que parte do público estranhou suas atitudes para esclarecer a respeito desse risco.
“Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas muito mais comuns e prevalentes do que a gente imagina e do que as estatísticas mostram”, garante a endocrinologista Claudia Cozer, que é coordenadora do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso, além de estar à frente do Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Ela lembra que o BBB22 não é a primeira edição do programa que tem um personagem com características de transtorno alimentar. “Nos reality shows, a gente fica assistindo a pessoas na sua intimidade 24 horas por dia e assim dá para ver que alguns apresentam essa relação ruim com a comida.”
Na vida longe das câmeras, porém, isso muita vezes fica escamoteado. Segundo a doutora Claudia, em geral, como em qualquer outra doença psiquiátrica, os transtornos alimentares são de difícil diagnóstico. “Até porque o paciente esconde um pouco todo o seu sofrimento e a angústia que ele vive — esse medo de engordar, essa culpa ao comer, essa dificuldade para ter uma alimentação adequada”, observa a médica.
Para ela, assistir a comportamentos como os de Bárbara nesse início de temporada de Big Brother Brasil tem dois lados: “É importante, se a gente encara como uma oportunidade para alertar a população sobre a frequência, os sintomas e o perigo desses transtornos”, opina. “Ao mesmo tempo, às vezes, assistir a esses hábitos alimentares inadequados na televisão pode estimular outras pessoas a adotá-los, achando que são uma solução efetiva para controlar o peso e a imagem corporal.”
Diante da tremenda audiência do programa e, consequentemente, da repercussão inevitável, o melhor a fazer é orientar quem está comentando a respeito das refeições — ou da falta de refeições — da “sister” a procurar fontes confiáveis para tirar suas dúvidas sobre transtornos alimentares.
No canal da Abeso no Youtube, você encontrará uma série completa sobre o assunto, com vídeos explicando as causas desses transtornos, o que é a compulsão alimentar, a bulimia, o comer noturno, a ortorexia, a diferença entre fome e vontade de comer e muito mais.
Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade
O que você achou deste post?
Clique nas estrelas para avaliar!
Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0
Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.