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Epidemia de bets: Vício em apostas online gera problemas de saúde mental ou agrava quadros pré-existentes

novembro 5, 2024

vício em bets — Crédito: Freepik Premium

Em meio ao crescimento exponencial dos chamados “bets” no Brasil e no mundo, especialistas alertam para os impactos que a dependência em jogos de azar pode causar na saúde mental, física e financeira da população. Neste artigo, vamos nos concentrar nos estragos que esse fenômeno pode causar na saúde mental.

O vício em jogos é um transtorno caracterizado pela dificuldade em estabelecer limites na atividade de jogar. Neste transtorno, a pessoa se torna dependente de estar jogando, investindo muitas horas e até mesmo dinheiro nos jogos, demonstrando irritabilidade e sentimentos de angústia em situações em que não pode jogar.

E preocupa ainda o fato de a dependência de álcool e nicotina também tem sido associada a uma maior compulsão por apostas. Embora o transtorno do jogo seja um fenômeno clínico já descrito na literatura especializada há várias décadas, os jogos no contexto atual da internet agregam uma característica peculiar que redimensiona a extensão do problema. A afirmação é do Ministério da Saúde, que encaminhou ofício ao Supremo Tribunal Federal (STF defendendo que o tratamento para o vício em jogos seja equivalente ao oferecido a alcoólatras e dependentes químicos.

De acordo com o documento, existe “relação direta entre sofrimento mental e o comportamento de jogo problemático”. O vício pode gerar problemas de saúde mental ou agravar um quadro pré-existente.

Em nota técnica, a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde defende que o cuidado deve ser orientado por intervenções semelhantes àquelas voltadas ao uso de álcool e outras drogas, considerando as suas especificidades”, diz nota técnica da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde.

O Ministério defende também que os serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), “sem exceção, devem ser qualificados e fortalecidos para atendimento das demandas relacionadas ao jogo”.

O transtorno é reconhecido na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como jogo patológico, com o código F63.0. Nessa classificação, não há distinção entre jogos eletrônicos e de azar, nem entre jogos de apostas e cassinos online dos cassinos reais.

Os jogos de azar têm impactos profundos no cérebro, semelhantes aos vícios em drogas e compras. Eles ativam o sistema de recompensa, liberando dopamina, neurotransmissor essencial para a motivação e prazer. Cada vitória no jogo aumenta a dopamina, criando um ciclo que estimula o jogador a continuar apostando, mesmo diante de perdas frequentes. A sensação de recompensa, mesmo que temporária, pode levar a um ciclo vicioso, onde a esperança de uma vitória futura ofusca a realidade das perdas financeiras e emocionais.

Esse comportamento gera consequências sérias para a saúde mental. Indivíduos viciados frequentemente experienciam ansiedade, depressão e até distúrbios de humor. O isolamento social é comum, já que muitos preferem jogar a interagir com amigos e familiares, exacerbando sentimentos de solidão e desespero.

A disponibilidade constante de jogos, especialmente via smartphones, facilita ainda mais esse vício. Antes, era necessário sair de casa para jogar; agora, a tentação está a apenas um clique de distância, com opções de compras in-game que encorajam gastos descontrolados. Essa acessibilidade, combinada com a natureza altamente competitiva dos jogos, pode tornar o vício ainda mais difícil de combater.

Pay to win

Como grande parte dos jogos são competitivos, há também o fenômeno pay to win (“pague para ganhar”, em tradução livre), no qual a pessoa utiliza de dinheiro real para comprar itens dentro do jogo que lhe concedem vantagens em relação às pessoas que usam apenas os itens disponibilizados gratuitamente. Vitórias adquiridas com esses itens reforçam o comportamento de comprar mais itens com dinheiro real, mesmo que isso traga prejuízos financeiros ao jogador.

Causas do vício em jogos

De acordo com o Instituto de Psiquiatria do Paraná, até hoje, não foi identificada uma causa específica para o vício em jogos. No entanto, alguns fatores de risco associados são:

Isolamento social;
Presença de transtornos mentais adjacentes não tratados, como depressão ansiedade;
Falta de apoio familiar;
Histórico familiar de vícios;
Sentimentos crônicos de tédio;
Necessidade de dinheiro (jogos de azar);
Desejo por aumentar o status social.

“É importante ressaltar que a presença desses fatores nem sempre resulta no vício em jogos, bem como o desenvolvimento do vício em jogos não depende desses fatores. Além disso, grande parte desses fatores são comuns ao desenvolvimento de diversos tipos de vício, não apenas em jogos”.

Como tratar o vício em jogos?

Para aqueles que enfrentam essa situação, buscar ajuda é essencial. O tratamento pode incluir psicoterapia, que auxilia na identificação e manejo das emoções que levam ao comportamento de jogo. Grupos de apoio proporcionam um ambiente para compartilhar experiências e estratégias. Além disso, se houver transtornos mentais associados, o acompanhamento psiquiátrico pode ser fundamental, utilizando medicamentos que ajudam a regular os neurotransmissores e a saúde mental.

Assim como em qualquer tipo de dependência, a prevenção e a intervenção precoce são fundamentais. Mudanças no estilo de vida, como estabelecer limites para o tempo dedicado aos jogos, procurar hobbies alternativos e evitar situações que incentivem o jogo, podem ser benéficas. Manter um círculo social ativo e saudável, distante do vício, é crucial para fortalecer a recuperação e reencontrar a alegria em atividades não relacionadas aos jogos.

Nos casos em que há transtornos mentais concomitantes, o tratamento psiquiátrico pode ser especialmente importante no combate ao vício. A utilização de medicamentos pode ajudar a equilibrar os neurotransmissores no cérebro, influenciando positivamente o humor e o comportamento.

Por fim, clínicas de reabilitação especializadas no tratamento do vício em jogos também podem ser uma alternativa valiosa para aqueles que buscam tratamento.

Referências