Desde sempre ouvimos que comer tarde da noite não é um bom hábito. Agora, um estudo norte-americano passa a régua no tema ao fornecer evidências experimentais de que ingerir alimentos após as 22h causa diminuição do gasto de energia, aumento da fome e alterações no tecido adiposo. Combinados, esses fatores podem aumentar o risco de obesidade.
Pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital, membro fundador do sistema de saúde Mass General Brigham, descobriram que a hora em que comemos nos afeta significativamente. Os resultados da pesquisa, publicados na revista científica “Cell Metabolism”, revelaram que comer mais tarde teve efeitos profundos na fome e nos hormônios reguladores do apetite leptina e grelina, que influenciam nosso desejo de comer.
Durante a investigação científica, que durou 12 semanas, os níveis do hormônio que sinaliza saciedade, a leptina, diminuíram ao longo das 24 horas seguintes nos voluntários que faziam a última alimentação do dia mais tarde em comparação com o outro grupo, que fazia as refeições cerca de quatro horas mais cedo.
“Queríamos testar os mecanismos que podem explicar por que comer tarde aumenta o risco de obesidade”, explicou à revista “Cell Metabolism” o autor sênior Frank AJL Scheer, PhD, diretor do Programa de Cronobiologia Médica da Divisão de Sono e Distúrbios Circadianos de Brigham. “Pesquisas anteriores feitas por nós e outros mostraram que a alimentação tardia está associada ao aumento do risco de obesidade, aumento da gordura corporal e sucesso prejudicado na perda de peso. Queríamos entender o porquê.”
“Neste estudo, perguntamos: ‘O tempo que comemos importa quando todo o resto é mantido consistente?'”, disse a primeira autora Nina Vujovic, PhD, pesquisadora do Programa de Cronobiologia Médica da Divisão de Sono e Distúrbios Circadianos de Brigham. “E descobrimos que comer quatro horas depois faz uma diferença significativa em nossos níveis de fome, na maneira como queimamos calorias depois de comer e na maneira como armazenamos gordura”.
Como foi a pesquisa
De acordo com o site ScienceDaily, ao longo da pesquisa, foram estudados 16 pacientes entre 20 e 60 anos, com índice de massa corporal (IMC) na faixa de sobrepeso ou obesidade. Cada participante completou dois protocolos de laboratório: um com um horário estritamente agendado para as primeiras refeições (a última refeição do dia acontecia às 18h) e o outro com as mesmas refeições, mas cada uma agendada cerca de quatro horas mais tarde no dia (jantar às 22h).
Antes de iniciar cada um dos protocolos em laboratório, nas duas ou três semanas anteriores, os participantes foram instruídos a manter horários fixos de sono e vigília e, nos três dias que antecederam a entrada no laboratório, seguiram rigorosamente dietas e horários de refeições idênticos em casa.
Já no laboratório, os participantes anotaram regularmente sua fome e apetite, forneceram amostras de sangue e mediram a temperatura corporal e o gasto de energia. Além da redução dos níveis de hormônios da saciedade, ao comerem mais tarde, os participantes também queimaram calorias em um ritmo mais lento e exibiram expressão gênica do tecido adiposo para aumentar a adipogênese e diminuir a lipólise, que promovem o crescimento de gordura.
A pesquisadora Nina Vujovic explica que essas descobertas não apenas sugerem que comer mais tarde pode aumentar a probabilidade de desenvolver obesidade, mas também lançam uma nova luz sobre como isso pode ocorrer.
Em estudos futuros, a equipe pretende recrutar mais mulheres – neste estudo, houve apenas cinco participantes do sexo feminino – para ampliar o escopo das descobertas. Os pesquisadores querem, ainda, entender melhor os efeitos da relação entre a hora da refeição e a hora de dormir no equilíbrio energético.
“Este estudo mostra o impacto da alimentação tardia versus precoce. Aqui, isolamos esses efeitos controlando variáveis de confusão como ingestão calórica, atividade física, sono e exposição à luz, mas na vida real, muitos desses fatores podem ser influenciados pelo horário das refeições”, disse Scheer ao “Cell Metabolism”. “Em estudos de maior escala, onde o controle rígido de todos esses fatores não é viável, devemos pelo menos considerar como outras variáveis comportamentais e ambientais alteram essas vias biológicas subjacentes ao risco de obesidade”.
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