Artigo recente da Universidade de Copenhague defende a hipótese de pesquisar a ação de psicodélicos no combate à obesidade. Substâncias clássicas como a psilocibina, a mescalina, o LSD e a dimetiltriptamina – a DMT da ayahuasca, atuam nos receptores de serotonina do cérebro, envolvido em funções importantes do corpo, como a regulação da fome e ingestão de alimentos.
Estudos já foram realizados em animais, porém, ainda não há uma consonância acerca dos benefícios. Em março, a empresa NeonMind divulgou dados de estudo com ratos indicando que a psilocibina induz emagrecimento, especialmente com perda de gordura visceral. No entanto, uma outra pesquisa com roedores, realizada pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca, não encontrou efeito. Em humanos, os testes realizados abordaram apenas distúrbios alimentares como a bulimia e a anorexia, mas não a obesidade especificamente.
O potencial terapêutico dessas substâncias é estudado desde os anos 1970 – nesta época, com pesquisas mais voltadas ao abuso de álcool – e vem sendo confirmado mais recentemente após conclusão de que o abuso de alimentos é semelhante ao abuso de itens como o álcool, cigarro e drogas. De acordo com reportagem do portal Canaltech, esses produtos trabalham na área cerebral que lida com recompensa e motivação, causando dependência e compulsão alimentar. Alguém que se alimenta sem controle não é muito diferente de um viciado em nicotina em termos cerebrais.
Psicodélicos e tratamento para emagrecimento
De acordo com publicação recente da revista científica “Nature”, uma das mais aclamadas do mundo, “os efeitos profundos e transformadores dos psicodélicos no comportamento humano, juntamente com sua atividade nos neurocircuitos serotoninérgicos e na plasticidade cerebral, encorajam a avaliação dos psicodélicos como terapia para a obesidade. Do ponto de vista neurobiológico, alguns atributos da obesidade e do vício são semelhantes”.
A publicação aponta que estudos clínicos relatam que a ligação do 5-HT2AR – um tipo de receptor que pertence à família de receptores de serotonina e através do qual os psicodélicos clássicos exercem seus efeitos alucinógenos psicoativos – se correlaciona positivamente com o Índice de Massa Corporal (IMC) e está associada à magnitude da perda de peso após a cirurgia de gastroplastia.
Em roedores, a perda de peso induzida pelo tratamento foi atribuída ao 5-HT2AR. Dados de pesquisas observacionais com humanos, que investigam o uso de psicodélicos ao longo da vida, mostraram que este uso está associado ao aumento da saúde geral e à redução das chances de obesidade.
Há, enfim, um longo caminho a ser percorrido no que diz respeito ao uso dessas substâncias no combate à obesidade. Além disso, é muito importante ressaltar, de acordo com a publicação científica, que, apesar de serem geralmente bem tolerados, os psicodélicos são compostos potentes e, como qualquer farmacoterapia, provavelmente não são apropriados para todos os pacientes.
O artigo alerta que “a mentalidade do paciente e o ambiente do tratamento têm um efeito notável na experiência psicodélica; assim, mesmo que os psicodélicos sejam promissores para a perda de peso, o paradigma do tratamento precisa ser cuidadosamente considerado”.
Como última observação, as evidências sugerem que intervenções psicoterapêuticas com a administração da droga psicodélica provavelmente não terão sucesso sozinhas e devem ser implementadas conjuntamente com mudanças no estilo de vida do obeso.
A “Nature” conclui o artigo destacando que o potencial dos psicodélicos para o tratamento da obesidade merece ser explorado e salienta que é preciso proceder com cautela e garantir que “a ciência rigorosa e os resultados clínicos robustos precedam as tentativas comerciais e as recomendações de tratamento”.
