Um novo estudo mostra que fazer caminhadas intensas tem efeitos importantes sobre a saúde do cérebro de pessoas mais velhas que têm problemas de memória.
O estudo “One-Year Aerobic Exercise Reduced Carotid Arterial Stiffness and Increased Cerebral Blood Flow in Amnestic Mild Cognitive Impairment” foi publicado no Journal of Alzheimer Desease. Na tradução livre, “Um ano de exercício aeróbico reduziu a rigidez da artéria carótida e aumentou o fluxo sanguíneo cerebral em comprometimento cognitivo leve amnéstico”.
Na pesquisa, pessoas de meia-idade e mais velhas com sinais preliminares de perda de memória melhoraram a capacidade cognitiva após começar a caminhar com frequência. Como o título do artigo científico já revela, exercícios regulares também aumentaram o saudável fluxo sanguíneo ao cérebro.
As mudanças em seus cérebros e mentes foram sutis, mas importantes, conclui o estudo, e poderiam ter implicações não somente em pessoas com problemas graves de memória, mas para qualquer um de nós cujas memórias estejam começando a se dissipar com a idade.
“À medida que envelhecemos, a maioria de nós percebe que a capacidade de lembrar das coisas e raciocinar vai enfraquecendo um pouco. Isso é considerado normal, embora irritante. Se a perda de memória se intensifica, porém, pode se tornar um transtorno cognitivo leve, condição médica na qual a perda de capacidade mental se torna óbvia o suficiente para causar preocupação a você a às pessoas do seu entorno. Transtorno cognitivo leve não é demência, mas pessoas que sofrem dessa condição têm risco maior de desenvolver Alzheimer no futuro”, diz o jornal americano The New York Times, que fez um artigo sobre o estudo.
Sim, esquecer pequenas coisas é normal, pois todos nós temos uma memória seletiva e guardamos o que consideramos importante. No entanto, quando o esquecimento começa a chamar nossa atenção é preciso procurar ajuda médica, pois pode ser sinal de um comprometimento cognitivo leve (CCL).
Também conhecido por declínio cognitivo leve ou transtorno cognitivo leve, esse tipo de déficit de memória deve ser entendido como uma perda discreta de memória, não demencial, cuja causa vai desde estresse ou noites mal dormidas até fases iniciais de processos da doença de Alzheimer.
“A maioria das pessoas que apresentam pequenas falhas na memória não irá desenvolver a demência de Alzheimer, mas a maioria daqueles que têm Alzheimer tiveram algum tipo de comprometimento cognitivo prévio”, afirma o dr. Sergio Ricardo Hototian, psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês e professor de Psicogeriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em artigo publicado no site da instituição.
Podem também levar ao comprometimento cognitivo leve:
- Depressão
- Ansiedade
- Transtorno do sono
- Síndromes metabólicas
- Síndromes endócrinas
Essa síndrome se manifesta geralmente nas pessoas com mais de 45 anos de idade, embora possa surgir antes dessa faixa etária.
Cientistas ainda não determinaram as causas fundamentais do transtorno cognitivo leve, mas há alguma evidência de que alterações no fluxo sanguíneo ao cérebro podem contribuir. Sangue carrega oxigênio e nutrientes às células do cérebro e, se esse fluxo perde força, isso pode prejudicar a vitalidade dos neurônios.
Infelizmente, muita gente experimenta declínios no fluxo sanguíneo ao cérebro conforme envelhece, quando as artérias enrijecem e os corações enfraquecem.
O estudo citado acima, portanto, é uma boa notícia, pois mostra que os exercícios podem melhorar o fluxo sanguíneo ao cérebro, mesmo quando os praticantes não estão se movendo.
Nele, pesquisadores do Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas, em Dallas, e de outras instituições pediram que um grupo de 70 homens e mulheres sedentários com idades a partir de 55 anos e diagnosticados com transtorno cognitivo leve começasse a se movimentar mais.
Cientistas usaram ultrassom e outras técnicas
Primeiramente, os voluntários foram levados ao laboratório, onde foram avaliadas sua condição de saúde, função cognitiva e capacidade aeróbica. Depois, usando avançados ultrassons e outras técnicas, os cientistas mediram a rigidez de suas artérias carótidas, que levam o sangue ao cérebro, e a quantidade de sangue fluindo aos seus cérebros.
Finalmente, os voluntários foram divididos em dois grupos. Um deles iniciou um programa de alongamentos suaves e exercícios tonificantes, para servir como grupo ativo de controle. Os outros começaram realizar exercícios aeróbicos, principalmente andando em esteiras no laboratório, e depois, passadas algumas semanas, caminhando ao ar livre, por conta própria.
Os cientistas pediram a esses voluntários que realizassem exercícios vigorosos, para que seus batimentos cardíacos e ritmos respiratórios se elevassem perceptivelmente (eles podiam nadar, andar de bicicleta ou fazer dança de salão se preferissem, mas quase todos caminharam). O grupo de controle manteve os batimentos cardíacos baixos.
Todos os voluntários em ambos os grupos se exercitaram três vezes por semana, a princípio, por cerca de meia hora e sob supervisão. Posteriormente, os voluntários acrescentaram sessões de exercícios por conta própria, até passar a se exercitar, até seis meses depois, cerca de cinco vezes por semana na maioria das semanas. Esse programa continuou por um ano, no total. Cerca de 20 voluntários desistiram no período, a maioria no grupo que caminhou.
Então, os voluntários voltaram ao laboratório para repetir os mesmos testes que realizaram no início do estudo, e os pesquisadores compararam os resultados. Para nenhuma surpresa, o grupo que caminhou estava mais bem condicionado fisicamente, com maior capacidade aeróbica, enquanto a resistência física do grupo que se alongou não se alterou. O grupo dos exercícios aeróbicos também mostrou muito menos rigidez em suas artérias carótidas e, como consequência, um fluxo sanguíneo maior ao cérebro.
Talvez mais importante, depois do estudo, eles também tiveram melhor desempenho do que o grupo que se alongou e se tonificou em alguns testes de pensamento executivo, que envolve capacidade de planejamento e tomada de decisões. Essas habilidades tendem a ser as que decaem primeiro em casos de demência.
Curiosamente, porém, ambos os grupos tiveram resultados pouco melhores na maioria dos testes de memória e raciocínio— e aproximadamente à mesma medida. Na verdade, levantar-se e começar a se mover de qualquer maneira — e talvez também começar a interagir socialmente com pessoas no laboratório — pareceu ter intensificado capacidades mentais e ajudado a brecar declínios de cognição.
Ainda assim, os pesquisadores acreditam que, durante um período longo, caminhar vigorosamente poderia resultar em ganhos cognitivos maiores e menor declínio de memória do que suaves alongamentos, afirma Rong Zhang, professor de neurologia do Centro Médico da UT Southwestern, que coordenou o novo estudo.
“Provavelmente leva mais tempo” do que um ano para o fluxo sanguíneo melhorado se traduzir em melhor cognição, afirma ele. Ele e outros pesquisadores estão planejando estudos maiores e mais duradouros para testar essa ideia, afirma ele. Eles esperam também investigar a maneira como mais — ou menos — sessões de exercício a cada semana podem beneficiar o cérebro, e se haverá maneiras de motivar mais voluntários a permanecer em um programa de exercícios.
Por agora, porém, ele acredita que as atuais descobertas servem como um lembrete útil de que se exercitar muda mentes. “Estacione o carro mais longe” quando fizer compras ou ir trabalhar, afirma ele. “Use as escadas” e tente aumentar sua frequência cardíaca quando se exercita. Fazer isso, afirma ele, pode ajudar a proteger por toda a vida sua capacidade de pensamento e memória.
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