“Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.”
Em seu poema “Receita de Ano Novo”, publicado em 1977, nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), sempre certeiro, nos dá o caminho das pedras para realizar um novo ciclo. “Tente, experimente, consciente”. Para tanto, devemos deixar para trás as mazelas que nos atormentam e começar a próxima jornada livres, leves, menos estressados.
Unindo o útil ao agradável, que tal aproveitar o mês de férias ou até mesmo um pequeno fim de semana para fazer uma imersão na natureza e já começar seu 2023 renovado e com o pé direito? Mas não, esse não é um papo natureba. Técnica importada do Japão nos anos 1980, o “shinrin-yoku”, ou banho de floresta, tem realmente propriedades curativas, segundos pesquisas, e desempenha, inclusive, um papel benéfico em algumas doenças agudas e crônicas.
Terapia da natureza
Hoje, a terapia da natureza é praticada em todo o mundo. No Brasil, país bastante arborizado e privilegiado com uma vegetação abundante e recantos naturais preservados e próximos aos grandes centros, a prática tem ganhado adeptos. Fundador do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) em Brasília, Marco Aurélio Bilibio foi um dos primeiros a introduzir essa abordagem da psicologia no país.
Mas o que seria exatamente um banho na floresta? Segundo os defensores da prática, basta você mergulhar em um ambiente naturalmente bonito e saudável, usando seus cinco sentidos, por pelo menos meia hora, com a intenção de absorver e se conectar com o ambiente. A técnica propõe uma experiência meditativa, de silêncio, observação e trocas entre a pessoa e a natureza.
De acordo com o site e-Cycle, a prática é formada por exercícios muito semelhantes aos que mais tarde foram adotados pelas linhas de meditação mindfulness, como a observação detalhada de pequenos objetos, a caminhada lenta e com a atenção focada nos movimentos e a tentativa consciente de ampliar a percepção dos sentidos.
Apesar de simples, a também chamada terapia da floresta seria capaz de reduzir a frequência cardíaca e a pressão arterial, diminuir a produção de hormônios do estresse, estimular o sistema imunológico e melhorar a sensação geral de bem-estar.
Para usufruir ao máximo de uma sessão de shinrin-yoku, já inicie a terapia no trajeto para a área verde. Se acalme, observe o ambiente e caminhe lentamente. Preste atenção nos seus sentidos, sons, cheiros, texturas, e permita uma imersão completa. O ideal é que a terapia florestal seja realizada de forma individual e sem interferências. Estudos comprovam que os benefícios podem ser sentidos com caminhadas a partir de 40 minutos, mesmo que sejam ocasionais – nesse caso, o ganho maior é emocional e de curto prazo.
Benefícios do shinrin-yoku
Uma das principais razões pelas quais o banho de floresta pode ser tão favorável é o fato de que as árvores emitem compostos benéficos chamados fitocidas, que demonstraram aumentar significativamente a produção de linfócitos NK, as chamadas células killer, responsáveis por combater microorganismos invasores, diminuir os níveis de hormônio do estresse e aumentar a expressão de proteínas anticancerígenas.
São diversos os estudos que demonstram os benefícios do contato com o verde. Uma pesquisa da Universidade de East Anglia (UEA), publicada em 2018, apontou que viver perto da natureza e passar o tempo ao ar livre traz benefícios significativos e abrangentes para a saúde. O relatório revelou que a exposição ao espaço verde reduz o risco de diabetes tipo II, doenças cardiovasculares, morte prematura, parto prematuro, estresse e pressão alta.
De acordo com a investigação, que reuniu mais de 140 estudos envolvendo cerca de 290 milhões de pessoas, populações com níveis mais altos de exposição a espaços verdes também têm maior probabilidade de relatar boa saúde geral. A equipe de pesquisa estudou dados de 20 países, incluindo Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha, Austrália e Japão – onde Shinrin yoku ou ‘banho na floresta’ já é uma prática popular.
Co-autor do estudo, o professor Andy Jones, também da UEA, comentou a conclusão dos cientistas. “Muitas vezes procuramos medicamentos quando não estamos bem, mas a exposição a ambientes que promovem a saúde é cada vez mais reconhecida como prevenção e ajuda no tratamento de doenças. Nosso estudo mostra que o tamanho desses benefícios podem ser suficientes para ter um impacto clínico significativo”, falou.
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