O inglês sai do consultório e se despede do médico: “Thank you, doctor”. O espanhol também agradece: “Gracias, doctor”. Assim como o francês: “Merci, docteur”. Na vez do brasileiro: “Mas, doutor, eu vou poder beber?” A piada que viralizou e divertiu os seguidores das redes sociais tem uma ponta de verdade. Sim, nós, brasileiros, gostamos de beber uma cervejinha. Uma cachacinha. Um vinho.
Não foi à toa que repercutiu muito no país a notícia de que o estoque de Myrkl, uma pílula anti-ressaca posta à venda no Reino Unido na semana passada, havia esgotado em 24 horas. O suplemento está sendo comercializado pela farmacêutica inglesa De Fairy Medical AB.
Resultado do consumo excessivo de bebida alcoólica, a ressaca costuma ter efeitos bem desagradáveis. Dores de cabeça, náuseas, vertigens e cansaço são apenas algumas das ocorrências mais comuns. Uma medicação que evitasse esse mal-estar seria bem-vinda por muitos.
A pílula anti-ressaca funciona?
Mas o desafio de encontrar uma forma de evitar a ressaca é grande, já que existem muitos processos que geram essa indisposição, como a desidratação, o baixo nível de açúcar no sangue e a exaustão. Nesse contexto, a pergunta que não quer calar: será que a pílula anti-ressaca realmente funciona? E como ela age no nosso organismo?
Segundo o fabricante, o Myrkl decompõe até 70% do álcool após 60 minutos do consumo, fazendo com que apenas uma parte da substância entre na corrente sanguínea. As partículas de álcool são quebradas antes mesmo de chegarem ao fígado, órgão mais afetado pelo consumo de bebidas alcoólicas.
A pílula é um probiótico que contém duas bactérias amigáveis ao intestino – a Bacillus subtilis e a Bacillus coagulans -, além de aminoácidos do tipo l-cisteína e vitamina B12. Produzidos a partir de farelo de arroz fermentado, os bacilos transformam o álcool em gás carbônico e água com ajuda do aminoácido.
A cartela com 30 cápsulas da pílula é vendida no Reino Unido a £30 (R$ 192) e a empresa recomenda que se tome duas delas de cada vez, de uma a 12 horas antes de beber.
Apesar da euforia inicial, a metodologia do estudo tem sido considerada fraca pelo meio científico. As evidências foram amparadas em uma única pesquisa, realizada com apenas 24 pessoas, todos homens, jovens, brancos e saudáveis.
Eles tiveram o nível de álcool no sangue testado todos os dias ao longo de uma semana. Os participantes do estudo tomavam duas pílulas de Myrkl, ou de placebo, e, em seguida, recebiam uma pequena quantidade de álcool (entre 50ml e 90ml de destilados) com base em seu peso.
Mas os resultados de apenas 14 dos 24 participantes da pesquisa foram computados porque dez deles tinham níveis anormalmente baixos de álcool na corrente sanguínea e foram descartados. Além da administração da medicação ter sido diferente da recomendada pela farmacêutica aos clientes, os resultados variaram de pessoa para pessoa.
Enfim, mais pesquisas e estudos precisam ser realizados para afirmar a eficiência da pílula. Enquanto isso, faça um consumo moderado de bebidas alcoólicas. E adquira certos hábitos que podem evitar uma crise grave de ressaca, como não fumar enquanto bebe – nicotina e álcool juntos aumentam os sintomas.
Tomar um copo de água entre cada bebida alcoólica consumida e ingerir alimentos ricos em proteínas e carboidratos enquanto estiver bebendo ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue estáveis. Por último, beba um copo grande de água antes de ir dormir.
Mas se ainda assim a ressaca te pegar de jeito, veja abaixo dicas de como se recuperar.
- Trate a dor de cabeça, náusea e outros sintomas separadamente.
- Reidrate-se e reabasteça os eletrólitos bebendo kefir ou água de coco.
- Faça uma refeição saudável com proteínas e carboidratos complexos.
- Tire um cochilo.
- Se você suspeitar que alguém tem intoxicação por álcool, peça ajuda profissional.
- E lembre-se: Nunca tome paracetamol (como Tylenol) para ressaca; álcool e acetaminofeno tomados juntos podem causar problemas hepáticos.
