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Hipertensão: o perigo silencioso para o cérebro e a conexão com a demência; boa notícia é que 50% dos casos podem ser evitados, diz estudo

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Créditos: Freepik Premiun

A hipertensão, ou pressão alta, é um dos maiores inimigos da saúde cerebral, mas muitas vezes é tratada como uma condição isolada, sem o devido reconhecimento de seus impactos a longo prazo. Estudo após estudo tem mostrado que a pressão arterial elevada pode aumentar consideravelmente o risco de demência. Um dos alertas mais recentes vem de especialistas que destacam a hipertensão como um fator de risco crítico para o desenvolvimento da doença de Alzheimer e outras formas de demência.

Em uma entrevista para o Washington Post, a professora Ana Daugherty, do Instituto de Gerontologia da Wayne State University, enfatizou que controlar a pressão arterial é uma das ações mais eficazes que qualquer pessoa pode tomar para proteger o cérebro à medida que envelhece. “Se há uma coisa que você pode fazer hoje para ajudar seus resultados cognitivos quando tiver 80 ou 90 anos, é cuidar da saúde do seu coração”, afirmou Daugherty. Ela ainda reforçou que, para muitas pessoas, nunca é tarde para começar a adotar hábitos que promovam uma melhor saúde cardiovascular, o que, por sua vez, reflete diretamente na saúde cerebral.

A hipertensão compromete o fluxo sanguíneo para o cérebro, dificultando a entrega de oxigênio e nutrientes vitais. Isso pode causar danos aos pequenos vasos sanguíneos do cérebro e levar à neuroinflamação, um processo que pode acelerar o declínio cognitivo. Segundo especialistas, pessoas com hipertensão têm pelo menos 1,5 vez mais chances de desenvolver demência quando comparadas a pessoas com pressão arterial controlada. A boa notícia é que, como a hipertensão é tratável e, muitas vezes, evitável, sua prevenção e controle podem reduzir significativamente os riscos de demência a longo prazo.

Mais de 50% dos casos de demência na América Latina são evitáveis

Uma boa notícia: estudo inovador realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e publicado na The Lancet Global Health, revelou que mais de 50% dos casos de demência na América Latina poderiam ser evitados, com 54% dos casos na região atribuídos a fatores de risco modificáveis, como a hipertensão, obesidade e depressão.

O estudo, que abrange dados de países como Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Honduras, México e Peru, analisou mais de 100 mil participantes e mostrou que a região apresenta uma taxa de fatores de risco modificáveis significativamente maior do que a média mundial, que é de 40%. De acordo com a Dra. Claudia Kimie Suemoto, professora da disciplina de Geriatria da FMUSP e uma das líderes da pesquisa, esse estudo é um marco por ser o primeiro a analisar a questão de forma abrangente em toda a América Latina. “Essa é a primeira vez que uma região inteira tem um estudo tão robusto. Não existe nada parecido na Europa nem na Ásia, que também são regiões compostas por vários países, como a América Latina”, afirmou a Dra. Suemoto.

O estudo identificou 12 fatores de risco modificáveis que contribuem para o desenvolvimento da demência. Entre os mais prevalentes na América Latina estão a obesidade, a inatividade física e a depressão. Esses fatores têm grande relação com o estilo de vida e podem ser alterados com mudanças simples no cotidiano, como a prática regular de atividade física e o controle de condições como a hipertensão.

A Relação entre hipertensão e demência

A hipertensão aparece como um dos principais fatores de risco no estudo da FMUSP, sendo associada diretamente ao desenvolvimento de demência, especialmente em estágios mais avançados da vida. Além dos efeitos conhecidos da pressão alta sobre o sistema cardiovascular, ela também compromete a saúde do cérebro ao reduzir o fluxo sanguíneo e dificultar a oxigenação e nutrição das células cerebrais. Esse processo pode gerar danos irreparáveis, contribuindo para o aumento do risco de doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer.

Os especialistas ressaltam que a hipertensão não apenas pode ser controlada, mas também pode ser evitada por meio de medidas preventivas. Isso inclui uma alimentação saudável, controle do peso, prática regular de atividades físicas e o uso de medicamentos quando necessário. A pressão alta, quando tratada adequadamente, pode reduzir significativamente o risco de declínio cognitivo e demência a longo prazo.

Fatores de risco modificáveis e ações preventivas

De acordo com a Dra. Suemoto, a mudança de hábitos e a implementação de políticas públicas de saúde preventiva podem ter um grande impacto na redução da prevalência de demência na região. O estudo da FMUSP revelou que, além da hipertensão, outros fatores de risco associados ao estilo de vida, como tabagismo, isolamento social e baixa educação, também desempenham papéis importantes no desenvolvimento da doença. Por exemplo, no Brasil, a prevalência de hipertensão é alta, mas estudos mostram que o controle dessa condição pode reduzir substancialmente os riscos de demência.

Em 2022, o Ministério da Saúde do Brasil incorporou essas descobertas no 1º Relatório Nacional de Demências (ReNaDe) e começou a implementar campanhas de conscientização sobre a importância de controlar a pressão arterial, manter uma dieta balanceada e praticar exercícios físicos para prevenir a demência. Essas ações são fundamentais para reduzir o impacto da doença no país, onde cerca de 2 milhões de pessoas vivem com demência, muitas delas sem diagnóstico.

Fontes:

  • FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), The Lancet Global Health.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS)
  • Silvia Fossati, professora de ciências neurais e diretora interina do Centro de Alzheimer da Faculdade de Medicina da Temple University.
  • Ana Daugherty, professora associada de psicologia no Instituto de Gerontologia da Wayne State University
  • Washington Post

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