Fenômeno que começou entre celebridades e seduziu mulheres com a promessa de melhorar a aparência – com o aumento de massa muscular e redução de gordura corporal – e o ânimo – com o combate a sintomas da menopausa, como fadiga e perda de libido – os chamados “chips da beleza” se popularizaram pelo país na década passada mesmo sem terem sido submetidos à avaliação da Anvisa.
Implantes hormonais manipulados, esses produtos são, na verdade, cápsulas de silicone que contém uma composição de hormônios masculinos como gestrinona, testosterona e oxandrolona. Inserido no corpo da mulher no braço ou no glúteo, liberam no organismo, lentamente, essas substâncias classificadas pelas autoridades sanitárias brasileiras como anabolizantes.
Não demorou muito e usuárias famosas começaram a divulgar, pelas redes sociais, imagens e relatos de crescimento excessivo de pelos em mulheres (hirsutismo), queda de cabelo (alopecia), acnes, alteração na voz (disfonia), insônia e agitação. Mas a verdade é que esses produtos causam riscos ainda maiores, como elevação de colesterol e triglicerídeos no sangue (dislipidemia), hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e arritmia cardíaca.
Agora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a manipulação, comercialização, propaganda e uso desses implantes hormonais manipulados, vendidos por farmácias de manipulação em todo o país. A decisão, de acordo com informações da Agência Brasil, consta em uma nova resolução da agência, que será publicada no Diário Oficial da União (DOU), e tem força de lei.
Segundo a Anvisa, a medida é preventiva e foi adotada após denúncias apresentadas por entidades médicas, entre elas a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que apontam um crescimento do atendimento de pacientes com problemas devido ao uso de implantes que misturam diversos hormônios, em formato implantável, inclusive de substâncias que não possuem avaliação de segurança para a forma implantável.
Desde o ano passado, a prescrição de terapias hormonais para fins estéticos, como ganho de massa muscular e melhora no desempenho esportivo, está proibida por outra resolução, aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Segundo especialistas, esses “chips da beleza” podem conter inúmeras substâncias, além das citadas no início desta reportagem. Combinações contendo estradiol, oxandrolona, metformina, ocitocina, outros hormônios e NADH também são produzidas. Entidades médicas vinham alertando as autoridades sanitárias contra o uso desses implantes.
Com a nova resolução, a Anvisa pede aos pacientes que fazem uso destes produtos a procurarem seus médicos para orientação em relação ao tratamento. Qualquer paciente que venha a ter reações pelo uso deste tipo de produto, deve fazer uma notificação ao órgão.
A área de monitoramento da agência reguladora também já publicou um alerta em que destaca que implantes hormonais para fins estéticos e de desempenho podem ser prejudiciais à saúde, além de não haver comprovação de segurança e eficácia para essas finalidades.
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