
Frutas e extratos vegetais possuem compostos bioativos que podem ser úteis tanto no tratamento quanto na prevenção de doenças. Para entender como esses compostos agem, pesquisadores de universidades e centros de pesquisa no Brasil e na Alemanha têm realizado estudos complementares, mas independentes.
Alguns desses avanços foram compartilhados em uma palestra sobre o futuro da pesquisa em alimentos e nutrição, realizada no dia 25 de março, durante a Fapesp Week Alemanha, na Universidade Livre de Berlim. Em artigo publicado no site da instituição, Elton Alisson trouxe as principais novidades apresentadas no evento.
Plantas Medicinais e Infecções Urinárias
Segundo Ulrich Dobrindt, professor da Universidade de Munique, as plantas medicinais contêm fitoquímicos que ajudam a neutralizar infecções bacterianas de diversas formas, reforçando as defesas do organismo. Esse é um dos motivos do crescente interesse pelo uso de extratos vegetais no tratamento de infecções urinárias, uma condição comum globalmente, geralmente tratada com antibióticos.
“Embora as propriedades anti-inflamatórias e analgésicas dessas plantas sejam bem conhecidas, os compostos ativos como flavonoides, alcaloides e terpenoides, ainda não foram completamente caracterizados. Alguns têm efeito antibacteriano, mas outros não”, explicou Dobrindt.
Pesquisadores alemães têm desenvolvido modelos de infecção para estudar como os extratos vegetais afetam a resposta imunológica e a regulação genética das células, focando, por exemplo, em plantas com propriedades urológicas, conforme a farmacopeia alemã.
Em uma colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudos mostraram que extratos vegetais aquosos de plantas como Solidago gigantea e Equiseti herba reduzem significativamente a adesão e sobrevivência da bactéria Escherichia coli em células da bexiga humana.
Fibras de Frutas e Seus Benefícios
No Brasil, o Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP, investiga os efeitos biológicos de polissacarídeos hidrossolúveis, como as pectinas, presentes em frutas como mamão, maracujá e cítricos. Essas fibras têm sido associadas à redução de doenças crônicas não transmissíveis.
Entretanto, a extração de pectinas de frutas é desafiadora, pois o amadurecimento rápido modifica a estrutura dessas fibras, impactando sua eficácia biológica, como a modulação da microbiota intestinal. Durante o amadurecimento, enzimas alteram a estrutura das pectinas, o que diminui seus efeitos benéficos.
João Paulo Fabi, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e coordenador do projeto, afirmou que pectinas de maracujá e cítricos precisam ser quimicamente modificadas para potencializar seus benefícios intestinais. A equipe brasileira desenvolveu técnicas para extrair pectina da parte branca das frutas, como o albedo da laranja e do maracujá, normalmente descartada no processamento, e modificar essas fibras em laboratório para aumentar sua atividade biológica.
Esse trabalho resultou em uma patente para o processo de extração e modificação das pectinas de frutas carnosas, como o mamão e o chuchu. Uma segunda patente, referente à modificação de pectinas de maracujá, está prestes a ser depositada.
O protótipo desenvolvido pelos pesquisadores permite a extração e modificação das pectinas em escala laboratorial, com a intenção de criar um produto, como uma farinha rica em pectina modificada, que poderia ser usada como suplemento ou ingrediente alimentar.
Estudos em animais mostraram que as pectinas modificadas aumentam a atividade biológica, e esses resultados podem abrir caminho para pesquisas clínicas, com potencial para atuar como adjuvantes em tratamentos quimioterápicos para o câncer de cólon ou como moduladores benéficos da microbiota intestinal.
Mais informações sobre a Fapesp Week Alemanha estão disponíveis em fapesp.br/week/2025/germany.
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