“Quando me deito, não durmo. Quando acordo, me sinto cansada e não quero levantar. Os dias demoram a passar, ou passam rápido demais. A verdade é que não me sinto bem, e essa sensação piorou muito na pandemia”, desabafa a professora aposentada Mariana Lelis, 53 anos.
Por não conseguir dormir bem, o que ocorre com seis em cada dez mulheres em sua faixa etária no Brasil, ela toma clonazepam à noite. No começo foram três gotas, depois cinco, e o número foi subindo com o passar do tempo. Hoje são 15 gotas. Mesmo assim, acorda no meio da noite e perde o sono. É quando toma um comprimido de zolpidem, um indutor do sono.
Para Mariana, quando amanhece e todas as inúmeras tarefas que tem para fazer lhe vêm à mente, a sensação é de desespero e de confusão mental. “Não sei mais o que fazer”, diz a professora, que queria se livrar desses remédios, mas diz que não consegue.
Em artigo científico publicado no Journal of Mental Health, pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Louisville (EUA) afirmam que estamos vivendo uma nova “crise global de saúde mental” como impacto do novo coronavírus, com incidência cada vez maior de quadros de insônia e ansiedade.
E que, exatamente por esse motivo, temem o agravamento de uma outra epidemia que atinge a humanidade: o uso indiscriminado de benzodiazepínicos, a classe que inclui o remédio que Mariana Lelis toma toda noite.
Esses medicamentos – que são controlados, provocam dependência e têm muitos efeitos colaterais – têm sido comumente prescritos para o tratamento da ansiedade e insônia nas últimas décadas. “Advertimos os profissionais de saúde a usar as melhores práticas e tratar os pacientes com psicoterapia como a primeira linha de tratamento e não a farmacoterapia”, dizem, no artigo.
Outro artigo, desta vez elaborado pelos pesquisadores brasileiros Maria Tereza N. Agrello, Geuber Tavalares e Alisson Ribas, da Universidade Federal de São João del-Rei, chama atenção para o problema, especialmente no mês em que temos a campanha nacional “Setembro Amarelo”, de prevenção ao suicídio. O estudo, intitulado “Uso indevido de benzodiazepínicos, tentativas e ideações suicidas: reflexões a partir da prática” foi publicado no Jornal Brasileiro de Saúde e Farmácia, em março deste ano.
Segundo os autores, o uso de benzodiazepínicos vem crescendo de uma forma alarmante, sendo um dos medicamentos mais prescritos. Entretanto, dizem, “o seu uso abusivo pode causar estragos significativos no indivíduo, na família, na comunidade, além de elevar os gastos públicos”.
“Esses medicamentos apresentam características ansiolíticas, hipnóticas, anticonvulsivantes e provocam o relaxamento muscular. Entretanto, eles despertam preocupação singular pelo seu grande potencial de provocar tolerância, abstinência e dependência”, afirmam os pesquisadores mineiros, alertando que esta se trata de uma questão de saúde pública.
Relação benzodiazepínicos e suicídio. Veja o que diz o estudo:
Os benzodiazepínicos, especificamente, despertam atenção por estarem relacionados ao risco suicida de duas maneiras:
1) por ser um instrumento de perpetração;
2) pelo seu uso indevido estar associado à ideação e à tentativa suicida (SCHEPIS et al., 2019; RISSANEM et al., 2015; VOTAW et al., 2019).RISSANEM et al., 2015, observaram que o uso indevido de benzodiazepínicos está associado ao incremento da ideação suicida, seja mediado pelos sintomas depressivos ou pelo controle dos distúrbios psiquiátricos.
O estudo de SCHEPIS et al. (2019) observou que o uso indevido, combinado, de opióides e de benzodiazepínicos aumentou a prevalência da ideação suicida em três vezes, quando comparado ao uso indevido de um ou outro separadamente. Já relacionando os adultos que faziam uso indevido dos dois medicamentos, com os que não faziam uso indevido, a chance de ideação suicida cresceu em 353%.
Pesquisas anteriores já apontaram que esses fármacos deveriam ser administrados por um período de três a quatro meses, porém, o uso se torna crônico, contínuo. Os especialistas pontuam que é frequente a associação dos benzodiazepínicos aos tratamentos da depressão, em função da presença de ansiedade e insônia. Entretanto, esses autores observaram que, nestes casos, a recomendação é de que esses fármacos sejam utilizados nas quatro semanas iniciais do tratamento, não sendo recomendado o uso prolongado em função dos seus efeitos adversos.
Psicoterapia e tratamentos naturais, combinação eficaz e sem efeitos colaterais
É claro que haverá sempre casos, e eles não são poucos, de que as pessoas realmente precisarão desses medicamentos. No entanto, o que tem acontecido na vida moderna é que as pessoas se apegam a essas substâncias, que provocam dependência, mas não tomam medidas que são efetivas no combate às causas da insônia e da ansiedade.
Mudando alguns hábitos, deixando o sedentarismo de lado e praticando atividade física, ao mesmo tempo em que cuidamos melhor da nossa alimentação, optando por produtos mais naturais e livres de conservantes e agrotóxicos, já conseguiremos dar um salto de qualidade de vida. Outra dica importante é investir em momentos prazerosos, o que alimenta nossa alma. Resgate pequenos hábitos que te dão prazer. O reflexo na nossa saúde mental é praticamente imediato.
Fazer terapia é algo praticamente indispensável nos dias de hoje, quando somos atropelados por um ritmo de vida alucinante, competitivo e muito exigente com nós mesmos. Falar de si, dos próprios problemas e olhá-los de outra forma é fundamental para conseguir vencê-los.
Existem também inúmeras opções de tratamentos naturais, como a acupuntura, uma prática milenar da medicina tradicional chinesa. Ao se consultar com um especialista em naturologia ou um médico homeopata, por exemplo, poderão ser prescritos medicamentos fitoterápicos e homeopáticos, além de adoção de práticas integrativas bastante eficazes, como o uso dos óleos essenciais.
O importante é não ficar parado, pois existem alternativas. E não deixe de pedir ajuda!
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