
Por mais natural que seja, evacuar ainda é um assunto cercado de vergonha — principalmente em locais públicos e no ambiente profissional. Para muitos, a simples ideia de “fazer o número dois” no banheiro da empresa é motivo de ansiedade, desconforto ou até mesmo estratégias elaboradas de evasão. Mas afinal, por que ainda temos tanta dificuldade em lidar com uma função fisiológica tão básica?
A vergonha de evacuar fora de casa não é apenas socialmente comum — é, na verdade, um comportamento com consequências reais para a saúde. Reconhecendo a importância desse debate, o Departamento de Saúde de Queensland, na Austrália, lançou recentemente uma campanha pública inusitada, direta e bem-humorada: “Está tudo bem fazer cocô no trabalho”.
O tabu em questão
Evacuar fora de casa, especialmente em ambientes como escolas, escritórios ou restaurantes, pode ser um desafio para muitas pessoas. Condições como a parcopresis — também conhecida como “síndrome do intestino tímido” — afetam um número significativo de indivíduos. Caracterizada pela dificuldade de defecar em locais que não sejam familiares, essa condição está inserida num grupo mais amplo de distúrbios intestino-cérebro, que inclui também a síndrome do intestino irritável e a constipação funcional.
Segundo estudos australianos, até duas em cada cinco pessoas sofrem de algum tipo de distúrbio desse tipo. Já a paruresis, ou “bexiga tímida”, atinge entre 2,8% e 16,4% da população, demonstrando o impacto psicossocial de situações tão corriqueiras quanto ir ao banheiro.
As consequências de segurar
Mais do que desconforto momentâneo, segurar a evacuação pode trazer riscos à saúde. De acordo com os gastroenterologistas, o cólon é responsável por absorver água. Quando as fezes ficam muito tempo retidas, tornam-se mais secas e duras, dificultando a evacuação e aumentando o risco de constipação e hemorroidas.
Além do esforço físico desnecessário, prender o cocô também pode desregular o funcionamento natural do intestino. Em casos mais graves, pacientes relatam tomar medicamentos para evitar evacuar durante o expediente ou saem do trabalho para ir a outros lugares, como shoppings ou cafés, apenas para usar o banheiro com mais privacidade.
A campanha que viralizou (e educa)
Diante desse cenário, a campanha australiana apostou em humor e visual psicodélico para chamar atenção. Arco-íris, unicórnios e emojis ilustram os vídeos divulgados nas redes sociais, com mensagens como “Está tudo bem fazer cocô no trabalho” e “Lembre-se: todo mundo faz cocô, até a Taylor Swift”.
Apesar do tom leve, o recado é sério. Ao normalizar a evacuação no ambiente de trabalho, a campanha busca combater a vergonha e incentivar o cuidado com a saúde intestinal. “Evacuar é uma função básica do corpo humano. Adiar isso por vergonha não faz sentido”, reforça Simon Knowles, psicólogo clínico e professor da Universidade de Tecnologia de Swinburne, especialista em conexões entre cérebro e intestino.
Como lidar com a vergonha
Se você sente dificuldade em evacuar no trabalho, há formas práticas de amenizar o desconforto:
- Escolha um banheiro mais tranquilo, mesmo que ele não seja o mais próximo. A sensação de privacidade ajuda no relaxamento.
- Crie ruído branco: tossir, puxar papel higiênico ou deixar um vídeo tocando podem ajudar a disfarçar sons naturais da evacuação.
- Use técnicas de respiração, como a respiração em caixa (inalar por 4 segundos, segurar por 4, exalar por 4 e manter os pulmões vazios por mais 4) para ativar o sistema nervoso parassimpático e facilitar a liberação intestinal.
E, por fim, mude a perspectiva: todo mundo faz cocô. Não há o que esconder ou se envergonhar. Negar essa função básica por medo de julgamento é negligenciar uma parte fundamental do seu bem-estar. Se o corpo chama, atenda — mesmo que isso signifique tirar um tempinho no expediente. Afinal, como lembra a campanha australiana: está tudo bem fazer cocô no trabalho.
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