Especialistas da Comissão da Associação Psiquiátrica Mundial da revista científica Lancet publicaram, no último dia 15, um alerta de que o mundo não está conseguindo lidar com a crise global de depressão. No artigo, os estudiosos convocaram uma resposta de toda a sociedade para reduzir o impacto global do transtorno. As informações foram divulgadas pela CNN.
O grupo de trabalho conta com a participação de 25 especialistas, de 11 países, incluindo o Brasil, abrangendo disciplinas da neurociência à saúde global. O artigo foi elaborado a partir da consultoria de profissionais com ampla experiência em depressão.
“Tratamentos psicossociais e médicos eficazes são de difícil acesso, enquanto altos níveis de estigma ainda impedem muitas pessoas, incluindo a alta proporção de adolescentes e jovens em risco ou vivenciando depressão, de buscar a ajuda necessária para ter uma vida saudável e produtiva”, afirmou Christian Kieling, copresidente da comissão e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em um comunicado.
Os pesquisadores destacam que apesar do conhecimento adquirido nas estratégias de prevenção e tratamento da depressão, ainda existem lacunas no que diz respeito à destinação de recursos e à realização do diagnóstico de maneira oportuna.
Em países de alta renda, cerca de metade das pessoas que sofrem de depressão não são diagnosticadas ou tratadas. O índice aumenta para 80 a 90% em países de baixa e média renda, segundo o levantamento.
Além disso, a pandemia de Covid-19 criou novos desafios no enfrentamento do distúrbio. Fatores como o isolamento social, luto, incerteza, dificuldades e acesso limitado aos cuidados de saúde afetaram de forma significativa a saúde mental de milhões de pessoas em todo o mundo.
“A depressão é uma crise de saúde global que exige respostas em vários níveis. Esta Comissão oferece uma importante oportunidade de ação conjunta para transformar globalmente as abordagens de cuidados de saúde mental e prevenção”, afirma a presidente da Comissão, Helen Herrman, professora do Orygen, Centro Nacional de Excelência em Saúde Mental Juvenil, e da Universidade de Melbourne, na Austrália, em um comunicado.
Segundo Helen, além de possibilitar que milhões de pessoas se tornem mais saudáveis, o investimento na redução do impacto da depressão poderá ajudar a fortalecer as economias dos países e no avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030.
Um dos autores do artigo, o pesquisador Charles Reynolds, da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, afirma que a maior parte dos indivíduos com depressão tende a se recuperar com o apoio e tratamento adequados.
“Com ciência sólida, vontade política e responsabilidade compartilhada, a depressão pode ser prevenida e tratada e suas consequências potencialmente incapacitantes evitadas. Devemos capacitar as pessoas com experiência em depressão junto com famílias, profissionais, formuladores de políticas e sociedade civil para enfrentar o tsunami de necessidades não atendidas”, diz Reynolds.
Segundo o especialista, o compartilhamento de experiências contribui para reduzir o estigma sobre o distúrbio mental ao ampliar as possibilidades de ajuda e fomentar a ampliação de recursos terapêuticos para abordagens baseadas em evidências.
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